No primeiro trimestre deste ano, a economia brasileira apresentou um desempenho positivo, surpreendendo analistas que esperavam um cenário mais contido. Apesar do ambiente de juros elevados, um dos principais motores dessa alta foi o setor agropecuário, que mostrou uma força significativa na produção e na exportação. Enquanto outras áreas da economia ainda enfrentam desafios, especialmente o setor de serviços e a indústria, o campo demonstrou resiliência e impulsionou o Produto Interno Bruto para cima, contrariando projeções mais conservadoras.
Esse desempenho do setor agrícola tem relação direta com a produtividade das lavouras, que atingiram recordes importantes em diversas culturas, como soja, milho e café. As condições climáticas favoráveis, o uso de tecnologias mais avançadas e a expansão das áreas cultivadas contribuíram fortemente para esse resultado. Além disso, o aumento da demanda externa, principalmente da China, consolidou o papel do agronegócio como pilar fundamental da economia brasileira, sendo decisivo para puxar os números do PIB para o campo positivo, mesmo com o consumo interno mais fraco.
O crescimento do PIB puxado pelo setor rural também tem impacto direto na geração de empregos e na renda em diversas regiões do país. Estados com forte presença agrícola viram a movimentação econômica crescer, o que refletiu em contratações e aumento no poder de compra da população local. Isso reforça como o campo não apenas abastece o mercado externo, mas também exerce um papel relevante na economia interna. Mesmo em um momento de retração de crédito, o dinamismo do agronegócio amenizou os efeitos do aperto monetário.
Embora os juros altos tenham um efeito inibidor sobre o investimento e o consumo, o bom desempenho agrícola acaba ofuscando esse cenário mais duro. Isso porque o agronegócio depende menos de crédito de curto prazo do que setores como a indústria e os serviços. Grandes produtores, muitas vezes, já contam com financiamento pré-aprovado ou reservas suficientes para seguir investindo. Esse fator torna o campo menos sensível às oscilações na taxa básica de juros, permitindo que mantenha sua produção em alta e seu impacto positivo no PIB.
Outra consequência desse crescimento é o fortalecimento da balança comercial, que registrou superávits importantes graças à performance do setor rural. As exportações de produtos agrícolas ganharam destaque e ajudaram a equilibrar as contas externas do país. Além disso, o aumento da arrecadação sobre a cadeia produtiva agropecuária também contribui para as finanças públicas, ajudando estados e municípios a manterem seus serviços essenciais em funcionamento, mesmo com restrições em outras fontes de receita.
O protagonismo do setor agropecuário neste início de ano serve também como alerta para a necessidade de políticas públicas que garantam sua continuidade de crescimento sustentável. Investimentos em infraestrutura, logística e pesquisa são fundamentais para manter o ritmo de expansão e evitar gargalos que possam comprometer o desempenho nos próximos trimestres. Com o setor ganhando mais visibilidade, cresce também a responsabilidade dos gestores públicos em promover medidas que fortaleçam toda a cadeia produtiva.
No entanto, é importante lembrar que esse crescimento liderado pelo campo não substitui a necessidade de recuperação de outros setores econômicos. A indústria, por exemplo, ainda sente os efeitos da alta dos custos e da baixa demanda, enquanto os serviços enfrentam um consumo mais retraído. O equilíbrio entre os setores é essencial para que o crescimento seja duradouro e abrangente. O desempenho agropecuário é um alívio momentâneo, mas a retomada econômica precisa ser mais ampla e consistente.
O resultado do primeiro trimestre deixa uma lição clara: mesmo diante de um cenário adverso, com inflação pressionada e crédito restrito, setores com alta capacidade produtiva e foco em exportação podem garantir estabilidade econômica. O agronegócio mostrou essa força ao sustentar a alta do PIB, mostrando que o Brasil ainda tem motores capazes de gerar crescimento, desde que se invista de forma estratégica e com visão de longo prazo.
Autor : Dabarez Tayris