Apesar de uma performance melhor do que a esperada nos últimos meses, a economia global em 2025 ainda apresenta sinais que merecem atenção. De acordo com a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, embora o sistema financeiro tenha resistido bem a choques recentes, essa resistência pode não ser suficiente diante de ameaças que seguem se acumulando. A recuperação iniciada após os efeitos mais graves da pandemia tem mostrado fôlego limitado, especialmente quando se observa o comportamento do crescimento a médio prazo, que permanece abaixo dos níveis registrados antes de 2020. O clima de incerteza, portanto, segue presente nos debates entre economistas e autoridades.
O cenário internacional revela que as grandes economias conseguiram evitar uma recessão de curto prazo, algo temido por muitos analistas no início do ano. No entanto, a estabilidade aparente esconde fragilidades estruturais. A inflação, por exemplo, continua sendo uma preocupação em diversos países, principalmente pela pressão gerada pelas tarifas comerciais e pelos preços de commodities estratégicas. O aumento na procura global por ativos considerados mais seguros, como o ouro, reforça a percepção de cautela nos mercados. Esse movimento é um reflexo direto das inseguranças que cercam o futuro próximo da economia global.
Entre os fatores que sustentam temporariamente a economia mundial estão as condições financeiras ainda favoráveis em algumas regiões e a adaptabilidade do setor privado frente aos desafios impostos. A atuação dos governos e a manutenção de fundamentos políticos relativamente sólidos também têm ajudado a evitar quedas mais acentuadas no desempenho econômico. Contudo, essas medidas são insuficientes para garantir estabilidade de longo prazo, principalmente quando se leva em consideração o enfraquecimento do comércio internacional e a desaceleração da produtividade global. A ausência de reformas estruturais profundas amplia os riscos de um crescimento lento e desigual.
Os países em desenvolvimento enfrentam obstáculos ainda maiores nesse cenário. Com menor espaço fiscal e dependência maior de investimentos externos, essas economias são mais sensíveis às flutuações globais. O impacto das mudanças climáticas, a volatilidade cambial e o aumento do custo da dívida são desafios que reduzem o ritmo de expansão e limitam a capacidade de resposta a novos choques. A desigualdade social e a instabilidade política, presentes em diversas nações emergentes, também dificultam a construção de uma trajetória econômica sustentável e inclusiva.
Embora as previsões do FMI indiquem um crescimento global em torno de 3% a médio prazo, esse número representa uma desaceleração em relação à média de 3,7% registrada antes da pandemia. Essa diferença, embora pareça pequena em termos percentuais, representa bilhões de dólares em riqueza não gerada e milhões de empregos que deixam de ser criados. A estagnação da produtividade, os desequilíbrios fiscais e o baixo nível de investimento em inovação são elementos que explicam esse novo padrão de crescimento mais fraco. Sem medidas mais ousadas, o mundo pode entrar em um ciclo prolongado de baixo dinamismo econômico.
As tensões comerciais e geopolíticas continuam sendo elementos centrais na avaliação de riscos. Disputas entre grandes potências, aumento no protecionismo e incertezas quanto a cadeias de suprimento globais dificultam o planejamento e o investimento das empresas. Além disso, há um aumento crescente no número de governos que recorrem a políticas econômicas isolacionistas, o que compromete a cooperação internacional e enfraquece instituições multilaterais. Esse ambiente contribui para um cenário em que o crescimento pode ser mais vulnerável a choques externos.
O discurso recente da liderança do FMI reforça a necessidade de vigilância e ação coordenada. O fato de a economia mundial ter superado algumas previsões negativas não significa que os problemas estejam resolvidos. Pelo contrário, a resiliência demonstrada até agora pode ser colocada à prova diante de eventos inesperados, como novas tensões financeiras, choques energéticos ou crises políticas em regiões estratégicas. A preparação para esses eventos deve incluir uma combinação de políticas fiscais responsáveis, estímulo ao investimento produtivo e reforço das redes de proteção social.
Em resumo, mesmo com alguns avanços importantes, o cenário para a economia global em 2025 exige atenção redobrada. A aparente estabilidade observada nos últimos meses não deve ser confundida com segurança duradoura. Governos, instituições e empresas precisam manter o foco em reformas, cooperação internacional e inovação para enfrentar os desafios que se acumulam. A travessia rumo a um crescimento mais sólido e equilibrado depende da capacidade coletiva de transformar alertas em ação concreta.